13 maio 2011

Sou ou não Sou...eis a Questão - Poema de afonso rocha / Videos - Caravelas Portuguesas ou Garrafa azul



Sou ou não Sou...eis a Questão

Detesto o estado de embriaguez e durante a minha curta estada nesta Terra não foram muitos os que apanhei.

1-Conscientemente.

A necessidade de irmos mais além...a sensação do abismo sem no entanto percebermos a fronteira delimitada entre o caos
e a necessidade interior de sentir o pulsar do seu próprio coração.

Coração que sente,
coração que berra,
coração que pede paz

que se deixa ficar na sua própria memória intemporal, amarga, esverdeada...como fel.

O espaço entre a sanidade e a loucura é algo tão ténue que deixa de ser doloroso e no entanto
nos fere até o mais profundo da alma...criando uma consciência aparte como um semi-Deus em que nos agarramos visceralmente, ficando-se dependurado como uma massa inerte tipo matadouro municipal.

A adoração per si, não é mais que o seu estado lamentável, execrável...tecendo os seus próprios medos e ao mesmo tempo afundando-os no esquecimento de si.

A linha débil da vida...que se quer simples e complicada ao mesmo tempo, sem no entanto ser nem uma coisa nem outra.

Uma amálgama em que os seus componentes se interrogam, se enfurecem, se ferem...
até o sangue jorrar por todos os poros, antes do apaziguamento final, fedendo a selva irracional.

 
2-Sou um ser desprezível.

Espreito para o interior do meu corpo por uma fresta de luz e observo um amor imperativo que me cega e de olhos faltos caio por terra beijando grão a grão e me transporta para outra realidade.

A ausência de visão faz com que meus dedos se tornem autonomos, esponjosos e mergulhem no novo corpo.

Sou afinal uma caravela portuguesa...descendente das grandes medusas...das aguas-vivas que enroladas nas ondas se espraiam mas ao contrário das primitivas de cor azulada e perniciosas, emito afetos.

Tenho uma alma de luz que dôo sem escolhas a todos os seres em meu redor.

A sua plástica narcísica cessou de viver.


                                                                      afonso rocha

3 comentários:

Fátima disse...

Melhor que a metamorfose de Kafka.
Melhor ser transformado em caravela portuguesa do que em barata.

Voltarei aqui para comentar o poema como se deve.
Bom final de semana!
Com carinho
rosa
de Fátima

Esmeralda Alves disse...

Embora com laivos Schopenhauer
gostei do teu poema...
muita capacidade de introspeção... os poetas são assim mesmo!!!
jinho
esmeralda

Fátima disse...

Não me aproximo de uma caravela portuguesa...
Tenho medo de me queimar!
Sei que ela tem uma cor tão linda...
Carrega, com ela, parte dos mistérios do mar.

Na praia ela se desidrata
e morre, quase, indefesa.
Perde a beleza ao se desidratar.

Carrega com ela
os segredos mais loucos
Na embriaguês de se embebedar do mar.

Na vida foram tantos os obstáculos...
Que seus tentáculos não conseguem mais queimar.

Assim, eu deixo uma rosa.
Nessa coisa linda...
gelatinosa!
Da cor do céu,
azul do mar.

Uma caravela portuguesa não morre...
Evapora!
no ar.


Com carinho
rosa
de Fátima