25 novembro 2010

Fat Man - Poema de afonso rocha / Videos The Fat Man I e II by KAI



" Um poema quase 'à la bonne manière' dadaísta"

A “música” faz parte da sua afirmação.

Quando pensou que a sua casa estava finalizada
ruiu.
Como um castelo de cartas.
A infelicidade fez com que caísse do ninho.
Desajeitadamente.

Uma queda para o vazio.

Como grão de café.
Moído em qualquer moinho desajustado
e doente.
A sua gordura é ilusória aos seus olhos.
Acumula-se essencialmente no cérebro
desbotado.
Debochado.
Fazendo-o pensar que é um homem
elegante e charmoso.
Um superdotado. Macho Latino.
Dom Juan. Casanova.
Um puro ficcionista.
Um galã de algibeira.
Gosta até de Visconti, de Sica.
E de Fellini.
Sem saber o porquê
quando ele próprio é uma farsa.
Uma fábula burlesca.
Fellini vomitaria as próprias tripas
se o conhecesse.
Mas é de “bom tom” dizer-se que se gosta,
se entende.
Crítico de cinema.
E que a comunicação trata-se por “tu”.

O harém virtual
aprova.
Pura misoginia.

Assim é o “fat man”.

Transformado em ridículo como
um desenho animado de mau gosto.
Sem afinal ser fat.
No sentido lato do termo.
Porque os “fat” verdadeiros
têm graça e sentido de ritmo.
Dançam bem.
Apreciam a música.
São reais.

Os outros
só conhecem o som dos carimbos
a massacrá-los.
De medíocres.
Incompetentes tardios.
Mas não aceitam.
São burros.

Para o óvulo fecundado
será sempre uma incógnita.
Homem, Besta ou Merda?

Felizes as mulheres,
porque
não fazem parte deste “bidon”.
Como no Cabaret Voltaire.
Onde Emmy Hennings era uma rainha
ao lado de Hugo Ball.

.................................

Oh, Fat Man…
repara que até a bússula
se converteu ao anarquismo
e rejeita apontar para o Norte.
O metrônomo a gritar para o piano
desafinado.
Ao compasso de uma valsa.
Ampulheta obstruída
sem marcar o Tempo.
Efémero.
O relógio de Sol.
onde a sombra pára sempre.
Ao meio-dia.
Sinal de inteligência.
Para o não arrefecer
da noite próxima.

És a solidão,
Fat Man.

Da memória pesada
sobre a pedra tumular
do subconsciente.
O pêndulo de Foucault
assemelha-se ao teu nariz.
Farejador de gárgulas
demoníacas.
Como castrador
em convento
da idade média.

Uma espiral
sem retorno
em que tu
Fat Man te delicias.

Na moldura da tua própria morte.
À volta da Terra.
Em viagens gárgulescas.
Pelo amor sujo.
Fácil
e desprendido
com que abordas as personagens.
Do Teu Mundo virtual.
Sem qualquer sentimento.
Numa busca incessante.
Pura diversão casual.
Como se tratasse
de um contrato de amor.
De plástico.

.......................

Eis o Fat Man.
Desportista.
Com cérebro seboso.
Gordurento.
Falicioso.
Déspota.
Egoísta.

Uma queda para o vazio.
                                                               afonso rocha

2 comentários:

Janaina Cruz disse...

Lindo escritos, onde deixei meus olhos perderem-se e perderem-se e perderem-se, e no mais ganharem a sabedoria bela e precisa do que pretendes dizer aqui.
Há uma queda no vazio, quando nos permitimos apaixonar por alguém que tem a intenção de fazer o mesmo com o mundo todo.
Feliz de nós mulheres sim, que por anos e anos, saímos revivendo emoções repetidas, e mesmo assim ser diferente em cada uma dessas paixões... Sigo-te aqui também... :)

BARBARA disse...

É sempre um prazer perder-me por momentos aqui...obrigado por me deixares partilhar....bj AB