06 setembro 2010
Que estranha forma de vida - Paulo Gonzo e Carlos do Carmo
Que estranha forma de vida
Acordei só. Sem uma palavra tua e a manhã nasceu mais triste com sombras e penumbras em redor de mim.
Tateando, coloquei um cd de blues no leitor. Fechei os olhos. E senti as grilhetas dos campos de milho, algodão e cana do açúcar. Não sou negro, mas sou escravo de uma outra época. As correntes do Mundo Global e Virtual.
Preso por sentimentos de bites recebidos, enviados e reencaminhados. Sem cor. Como o Blue.
Acendi a luz para pintar a manhã com cores de arco-iris e troquei o blue pelo fado. Como são idênticos. A mesma tónica. O lamento encapuçado. A liberdade rouca e pouca. Olhei para meu corpo marialva. Nu.
Acorrentado pelo meu fado. O fado da manhã. Da tarde de todos os dias. Das noites de mim e de ti.
Apaguei a luz incapaz de pintar o quadro devido à falta de pigmento em meus olhos.
Vislumbrando pelos poros da pressiana um pouco de azul pálido, abri a janela à fatalidade do ser português.
Comecei então a esculpir o dia numa mistura de fado e de blue.
Na sequência do dia veio inevitavelmente a escuridão.
As minhas mãos são os meus olhos. A ausência de cor cegou-me.
afonso rocha
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
15 comentários:
Afonso
Um texto belo esse. Respirei cada detalhe dele. Deixou-me pegadas na alma.
Deixo-te meu abraço.
Lindissimo, não tinha ainda ouvido esta versão. Adorei!
E o poema, o melhor que já escreveste, dos que conheço!
O mais bonito
Amei!
Não vou realçar nada porque teria de transcreve-lo na totalidade!
Vem de dentro. Sente-se. Ouve-se.
Parabéns.
Já te tinha dito que escreves muito bem?!
Hoje a tua caneta de tinta permanente não te traiu!...
Beijo!
Sei lá Afonso, nem tenho o que dizer, a emoção é tanta... Que me vejo sem palavras pra comentar este lindo poema... Simplesmente MARAVILHOSO!!!!
Beijos.
Hj deixo que esses versos de cazuza, falem por mim.
"'Eu causo nas pessoas um tipo de enjôo com meu jeito, com minha carência, com minha ânsia por atenção. Tenho amor incondicional pelas pessoas que entram em minha vida e sinceramente, não sei o quanto isso é bom nos dias atuais. Talvez esse seja meu pior defeito.'
Beijos meu anjo amigo.
Que bela obra. Me fez lembrar de um trecho de Lygia Fagundes Telles.
'Enriqueço na solidão: fico inteligente, graciosa e não esta feia ressentida que me olha do fundo do espelho. Ouço duzentas e noventa e nove vezes o mesmo disco, lembro poesias, dou piruetas, sonho, invento, abro todos os portões e quando vejo a alegria está instalada em mim.'
Tudo de bom pra ti.
:)
Aqui deveria haver um aviso: cuidado com as emoções fortes. Desde o espanto com a beleza do texto, até o espasmo com a dor, tudo é magnanimidade.
Beijo, Afonso!
Obrigada pela visita e pelas palavras deixadas no meu "Ortografia". Passarei aqui mais vezes.
Um abraço, Afonso.
Texto muito belo e profundo, mesmo que algo melancólico.
Adorei.
Beijo
Belamente profundo...
Os poetas enxergam melhor no escuro.
Um abraço, meu caro.
Que beleza de conjunto. Bem que o "Seo" Renato me recomendou vir até aqui - como se eu não já o conhecêra, meu caro Afonso!
Abraço forte!
poeta neste post é poesia pura, emoção então a flor da pele, tudo tão intenso, uma canção uma alma lírica, ode do amor.... lindo parabéns.... uma construção completa um poema para todos os corações.
Belíssimo texto.
terminado com chave de ouro (a ausência de cor cegou-me).
O fado e o blues têm algo em comum, de facto.
Caro amigo, um abraço.
Está bem, pronto..., eu sei que tenho sido madrinha desnaturada..., mas olha eu aqui...
é só p'a dizer bom dia e deixar um beijo... ;))
Nossa Afonso... que lindo!!!
Enviar um comentário