28 setembro 2010
Casa que habito - Afonso Rocha - Pedro Abrunhosa - Quem Me Leva Os Meus Fantasmas
Casa que habito
Rostos
perdidos
ausentes
irmãos
abandonados
em selvas de promessas e ilusões.
Olhos
tristes
velados
ovelhas
tresmalhadas
em campos estéreis como celas.
Casa
que habito
onde seres à deriva
procuram afetos
e o amor
se pode comprar
em cada esquina.
Jardins
de mortos-vivos
entregues a feras
onde as flores murcham
e ervas daninhas
passeiam
incólumes
serenas.
afonso rocha
20 setembro 2010
Porque o sagrado existe - Afonso Rocha Música Ketil Bjornstad * Preludes13 *
Porque o sagrado existe
Invento-te
a cada segundo
do meu corpo
porque o tempo não pára
Celebro-te
em cada respirar
da minha saudade
porque Deus me ensinou a amar
Beijo-te
como seara ao vento
transformada em pão
porque estou faminto de ti
Amo-te
em cada sonho
porque o sagrado existe
e num orgasmo uno de paixão
subo aos céus em teu templo nu
Desço
à dura realidade
e sorrio
porque
cada sonho meu
é
um pedaço de TI
afonso rocha
06 setembro 2010
Que estranha forma de vida - Paulo Gonzo e Carlos do Carmo
Que estranha forma de vida
Acordei só. Sem uma palavra tua e a manhã nasceu mais triste com sombras e penumbras em redor de mim.
Tateando, coloquei um cd de blues no leitor. Fechei os olhos. E senti as grilhetas dos campos de milho, algodão e cana do açúcar. Não sou negro, mas sou escravo de uma outra época. As correntes do Mundo Global e Virtual.
Preso por sentimentos de bites recebidos, enviados e reencaminhados. Sem cor. Como o Blue.
Acendi a luz para pintar a manhã com cores de arco-iris e troquei o blue pelo fado. Como são idênticos. A mesma tónica. O lamento encapuçado. A liberdade rouca e pouca. Olhei para meu corpo marialva. Nu.
Acorrentado pelo meu fado. O fado da manhã. Da tarde de todos os dias. Das noites de mim e de ti.
Apaguei a luz incapaz de pintar o quadro devido à falta de pigmento em meus olhos.
Vislumbrando pelos poros da pressiana um pouco de azul pálido, abri a janela à fatalidade do ser português.
Comecei então a esculpir o dia numa mistura de fado e de blue.
Na sequência do dia veio inevitavelmente a escuridão.
As minhas mãos são os meus olhos. A ausência de cor cegou-me.
afonso rocha
05 setembro 2010
A caneta de tinta permanente
A caneta de tinta permanente
Sempre adorei escrever com tinta permanente...
e desenhar tb.
Dei-me ao luxo de oferecer a mim próprio uma Mont Blanc...
enorme, preta...daquelas que se agarram com a mão toda...
e por sequência as coisas tb saem cheias.
Roubaram-ma. Chorei. Não o dinheiro, embora fosse cara...
mas porque tornou-se uma companheira inseparável.
Era a minha confidente.
Mais tarde, comprei uma baratinha...
mas com um aparo excelente...visto que foi concebida para escrever...e de diversos estilos...
conseguia fazer um risco enorme...sem reticências...um traço pleno, comprido...mas fino.
Era excelente para desenhar.
Um dia emocionei-me com um amigo...
e ofereci-a. Vai para cima de 10 anos.
Sei que a guarda religiosamente...pois quando me encontra fala sempre na caneta e na nossa amizade...compartilhando as palavras com todo o mundo que lhe é querido, fazendo-me algumas vezes corar.
É um excelente músico. Um amigo de peito que agora raramente vejo...desde que se mudou com toda a bagagem para o campo....
Ah! A caneta baratinha...mas excelente...
era uma Art Pen da Rotring.
Depois, comprei uma Dupont em prata com dois aparos. Faz juz à propaganda. Caneta cara deve ter bom aparo...logo desenha bem e escreve ainda melhor.
Só tem um senão.
Às vezes não me apetece desenhar nem escrever...
e ela não me ajuda nada.
Será egoista???
Bom...a publicidade e o folheto informativo que aconpanha a caixa tb nada diz acerca disso.
Mas a verdade é que quem escreve com permanente...
escreve com o coração e alma ardente!!!
afonso rocha
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